Por Flávio Emílio
Esta coluna é publicada aos domingos
Dia desses estava eu em um órgão público em reunião com um gestor. Na sala havia três pessoas: ele, eu e um rapaz de, no máximo, uns 20 anos, que prestava atenção atentamente ao diálogo de seu chefe comigo. Em um dado momento, eis que o gestor vira para ele e pede:
– “Fulano, por favor, sirva-nos um café!”
O rapaz prontamente atendeu o pedido, sem fazer cara feia.
Não me contive e perguntei:
-”Quem é ele?”
-”Ah, é o estagiário aqui do setor…”, respondeu o gestor, com desconcertante naturalidade.
Infelizmente, criou-se um pacto estranho entre muitas organizações e estudantes. Do lado institucional, o estágio é uma via de captação de pessoas jovens e sem experiência, que recebem ajudas de custo para executar serviços que os profissionais do quadro rejeitam… Já caso de estagiário que passou um expediente inteiro destacando as bordas laterais [furadinhas] de formulários contínuos. Outros, são operadores de telemarketing, office boys, dentre outras tarefas que nada tem a ver com um curso superior.
Pelo lado de muitos estudantes, vale o lema: “Não estou aprendendo quase nada, nem gosto do que faço. Mas pelo menos recebo um dinheirinho que paga minha faculdade e algumas despesas pessoais.”
Nunca é demais lembrar que um estagiário é uma pessoa que está em processo de formação, aprendizado. Por isso, a troca deve ser vantajosa para todos: ganha a empresa, que abre espaço à captação e preparação de jovens talentos. Ganha o aluno que terá oportunidade de adquirir habilidades práticas necessárias à construção de sua competência. Ganha também a instituição de ensino que verá o nível de seus alunos se elevar a cada dia.
Nossos estágios precisam ser melhor aproveitados!
Para as empresas, a dica é: Desafie os estagiários! Dê-lhes problemas para resolver, decisões para tomar e novas responsabilidades. Em geral, a finidade com a tecnologia que os estagiários têm, representam uma maravilhosa ‘brisa de renovação’ em ambientes conservadores. Somente a partir do acompanhamento e avaliação desses meninos e meninas, podemos garimpar gente [muito] boa, que apresenta potencial.
Para os estagiários, a dica é: Deixem-se desafiar! Não procurem oportunidades de estágio apenas pelo valor mais alto da ajuda de custo ou o horário ou mesmo o vale alimentação. Dê preferência a empresas nas quais você tenha chances concretas de aprender e crescer e, sobretudo, pensar! Lembrem-se que bons estágios agregam muito ao currículo e podem decidir uma futura contratação.
Ao contrário do que muitos por aí pensam, um estagiário pode valer e agregar muito: Basta que seu potencial de aprendizado seja bem direcionado e estimulado.
Flávio Emílio Monteiro Cavalcanti é administrador e Mestre em Gestão de Recursos Humanos .