Por Flávio Emílio
Esta coluna é publicada as Sextas Feiras e aos Domingos.
Os que defendem a generalização afirmam ser indispensável se ter uma visão ampla e sistêmica de sua área de atuação, podendo, inclusive, compreender melhor as conexões existentes entre diferentes elementos presentes em uma mesma atividade. Firmado nesse raciocínio, o profissional ou a empresa estaria mais apto a aproveitar novas oportunidades, visto que estaria sempre aberto a absorver diferentes responsabilidades e conhecimentos, ampliando cada vez mais seus conhecimentos e habilidades. Teoricamente esse argumento pode até convencer alguns. No entanto, o que se vê no mundo real é que um profissional ou empresa enquadrada no perfil do generalista busca ser bom em tudo e acaba frustrando as expectativas, pois terá uma fantástica amplitude de atuação, porém com quase nenhuma profundidade. Lembra-se daquele colega de escola que tentava praticar todos os esportes e não era bom em nenhum? É mais ou menos a mesma coisa que acontece com o generalista. Muito vasto, porém raso.
No outro extremo temos a figura do especialista. Alguém que dedica praticamente 100% de sua energia a assuntos e atividades muitíssimo específicas. O resultado desse interesse bastante seletivo será um profissional ou empresa que terá altos índices de eficiência no que faz. Porém o impacto de sua atuação tende a ser muito reduzido. Por ser muito focado, o especialista acaba desenvolvendo uma visão de mundo um tanto bitolada aos limites estreitos, porém profundos de seus conhecimentos e habilidades. Você certamente já deve ter tido oportunidade de conversar com pessoas que só têm um único assunto ou área de interesse. Elas dominam o diálogo e monopolizam a palavra por se acharem donas da verdade naquela matéria. Acaba sendo sempre “um samba de uma nota só”: altamente previsível, repetitivo e desinteressante.
A partir dos problemas decorrentes da escolha extremada entre o caminho da generalização e o da especialização, proponho uma terceira via: o caminho da multi-especialização. Não, não se trata de um mero jogo de palavras ou do mais novo modismo. É uma forma de se atender a duas necessidades prementes para o profissional ou empresa: ter conhecimentos e habilidades diversificados e profundos sem, contudo, perder o foco. Isso mesmo: foco é a palavra. Procure estabelecer o seu. Cuidado para não ser perigosa e exageradamente amplo. Uma vez escolhido, procure dedicar-se a este foco, buscando sempre absorver novas idéias a fim de aprofundar-se sem perder de vista aquilo que se encontra ao seu redor, principalmente áreas e assuntos afins. Invista na interdisciplinaridade, com sabedoria para não sair “atirando para todos os lados”. Posso lhe garantir que, agindo assim, você e sua empresa usarão racionalmente o tempo, os recursos financeiros, sendo reconhecidos e respeitados pelo que realmente são na prática, sem precisar da fantasia megalomaníaca de se auto intitularem “especialistas em tudo”.
Flávio Emílio Monteiro Cavalcanti é administrador e Mestre em Gestão de Recursos Humanos .